sexta-feira, 28 de outubro de 2011


O LUTO PARA QUEM PERDE UM FILHO(A) E ENFRENTA A DOR




O luto de quem perde um(a) filho(a) é diferente de qualquer outro. Tem o poder de destruir uma família e tornar insuportável o peso de tocar a vida adiante.
"A vida perdeu o sentido". "Em situações como essa, quem fica tem a sensação de que não pode ser feliz nunca mais, porque seria desleal com o(a) filho(a) que se foi".
Para qualquer pai  ou mãe, os filhos(as) são a continuação de sua história. “A criança sai do ventre da mãe para ficar no mundo depois que ela se for”.
Os pais escolhem seus carros, o lugar onde vão morar e, em muitos casos, até mesmo os empregos em função dos filhos(as). Perdê-los(as) equivale a decretar o fracasso de tudo aquilo pelo qual se viveu.
 “A primeira coisa que se pensa é: nunca mais terei alegria na vida”. “Com um(a) filho(a), morre também a esperança de imortalidade, que é um desejo primitivo e fundamental.” 
É bom saber que existem profissionais ocupados em confortar e consolar quem é vítima de uma dor como essa. Na prática, eles pouco podem fazer. A morte é sempre motivo de angústia e tristeza. Mas a perda de um(a) filho(a) é uma tragédia contra a natureza, um desastre além da razão. Nessa situação, muitos emudecem.
“A experiência do luto vem da infância”, o bebê, por volta dos 6 meses, se dá conta pela primeira vez que a mãe não está ali com ele, e acha que ela não voltará mais. É seu primeiro luto. 
A perda de um parente sempre traz de volta a angústia da criança sozinha no mundo, a vontade de se encolher, enfiar-se num buraco na terra e jamais sair dali. Quando a pessoa desaparecida é um pai ou uma mãe, o choque é de certa maneira esperado. Quando a perda é de um(a) filho(a), porém, a cicatrização parece impossível. 
“O tempo só piora, a dor nunca acaba. Cada dia é mais um dia sem ele(a). A sensação do ‘nunca’ é a pior que se pode sentir”.
O ritmo de vida de nossa sociedade torna quase impossível lidar com a perda de uma pessoa da família.
 “A recuperação leva muito tempo, e simplesmente ninguém tem tempo”. 
As pessoas que entravam em luto passavam meses e meses afastadas do convívio social, e um tempo considerável longe do trabalho. Quando saíam à rua, vestidas(os) de preto, deixavam claro seu estado de espírito. “Hoje todos têm de voltar rapidamente à vida produtiva. É um tal de dizer ‘não chora, passa logo por cima, vai em frente’”.
 Exige-se que as pessoas enlutadas cumpram regras, horários e cargas de trabalho que não têm condições de suportar.
 “É comum que os casais se separem, porque um passa a pôr a culpa no outro. Um culpado ajuda a aliviar a dor”.
 Ao perder uma criança ou um adolescente, não há pai que não ache que poderia ter feito algo para evitar a tragédia.
Mas temos que adquirir forças para cuidar dos que ficaram.

COMO ENFRENTAR A DOR:

O que os especialistas recomendam:

Procurar orientação médica: auxílio profissional é imprescindível no processo de aceitação da perda. O gesto de falar sobre a dor com alguém de fora da família é benéfico, serve como uma espécie de ritual para aliviar o sofrimento.

Manter a rotina: as atividades do cotidiano – escola, trabalho, convívio social – não devem ser paralisadas. Isso só aumenta a sensação de que a vida acabou junto com a do(a) filho(a).

Enfrentar a dor: falar sobre a tragédia, ver fotografias e chorar sempre que tiver vontade ajuda. O luto é elaborado na medida em que se entra em contato com a dor.

Evitar a culpa: quem se acha culpado julga também que poderia ter evitado a tragédia – o que é uma fantasia de onipotência. Esse pensamento impede que se viva a realidade da perda. A culpa é, em certa medida, uma forma de fugir da dor.

Tirar lições da morte: POR MAIS DOLOROSOS QUE SEJAM, todos os fatos da vida trazem alguma lição. Segundo os terapeutas, quem deixa de tirar lições da dor vai reviver a sensação de perda constantemente.

Encontrar uma válvula de escape: CADA PESSOA DEVE ACHAR SEU CAMINHO. Para uns é a religião, para outros é assumir uma causa ou dedicar-se às artes. O importante é não ficar paralisado pela dor.

Falar a verdade: não esconder as circunstâncias ou causas da morte, independentemente de tabus e preconceitos. Quando isso não acontece, as pessoas correm o risco de repetir a história e entrar numa ciranda de perdas sucessivas.


(Fonte: Instituto de Psiquiatria e Psicoterapia da Infância e Adolescência de São Paulo) 




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A AFETIVIDADE É A FUNÇÃO PSÍQUICA RESPONSÁVEL PELA QUALIDADE DA VIDA EMOCIONAL 





O transtorno afetivo mais típico é a DEPRESSÃO com todo seu quadro clínico conhecido mas, apesar disso, talvez não seja o problema afetivo mais freqüente. Os quadros ansiosos, do tipo Pânico, Fobias, Somatizações ou a mesma Ansiedade Generalizada são os problemas afetivos mais freqüentes, pois, também esses estados têm como base psíquica as alterações da Afetividade.
Para entender a Afetividade é necessário compreendermos também alguns elementos do mundo psíquico: as Representações, as Vivências, as Reações Vivenciais e os Sentimentos.
Durante toda nossa vida, os fatos ou acontecimentos vividos por nós serão nossas experiências de vida e passarão a fazer parte de nossa consciência. Dos fatos e acontecimentos teremos lembranças e sentimentos, assim como também teremos lembranças desses sentimentos, portanto, lembraremos não apenas nossas experiências de vida mas, também, lembraremos se elas foram agradáveis ou não, prazerosas ou não...
Embora diferentes pessoas possam viver mesmos fatos e acontecimentos, cada uma delas sentirá tais fatos e acontecimentos de maneira diferente e pessoal. Perder um mesmo objeto, sofrer a perda de um mesmo familiar, passar por um mesmo assalto, ouvir uma mesma música, comer uma mesma comida, etc., poderão causar diferentes sentimentos em diferentes pessoas. 
É a Afetividade quem dá valor e representa nossa realidade. Essa Afetividade também é capaz de representar um ambiente cheio de gente como se fosse ameaçador, é capaz de nos fazer imaginar que pode existir uma cobra dentro do quarto ou ainda, é capaz de produzir pânico ao nos fazer imaginar que podemos morrer de repente.
A Afetividade valoriza tudo em nossa vida, tudo aquilo que está fora de nós, como os fatos e acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjetivas), como nossos medos, nossos conflitos, nossos anseios, etc. A Afetividade valoriza também os fatos e acontecimentos de nosso passado e nossas perspectivas futuras.
Vendo uma antiga fotografia de algum ente querido já falecido, algumas pessoas experimentam sentimentos tenros, suaves, saudosos e até agradáveis, outras, por sua vez, podem experimentar sentimentos de angústia, tristeza, sensação de perda, pesar, enfim, sentimentos desagradáveis. O que, realmente, dentro das pessoas faz com que essa foto seja valorizada (Representada) dessa ou daquela maneira? Trata-se da Afetividade.
O melhor exemplo que podemos referir para entender a Afetividade é compará-la à óculos através dos quais vemos o mundo. São esses hipotéticos óculos que nos fazem enxergar nossa realidade desse ou daquele jeito. Se esses óculos não estiverem certos podemos enxergar as coisas maiores ou menores do que são, mais coloridas ou mais cinzentas, mais distorcidas ou fora de foco. Tratar da Afetividade significa regular os óculos através dos quais vemos nosso mundo.
Porque uma pessoa portadora de Síndrome do Pânico pensa que pode morrer ou passar mal de repente? Porque ela acha que sofre do coração, ou está prestes a ter algum derrame, ou que está tão descontrolada ao ponto de perder o controle. Ora, nada disso faz parte da realidade objetiva e concreta. Trata-se de um juízo pessimista, uma avaliação negativa que a pessoa faz de si mesma, ou seja, trata-se de uma Afetividade que representa negativamente para a própria pessoa o seu próprio eu. Se a pessoa está se vendo pior do que é de fato, então afetivamente não está bem.
A Depressão Típica, por sua vez, também faz com que a pessoa se sinta e se ache pior do que realmente é. Isso produz insegurança e rebaixa a auto-estima. Novamente aqui a Afetividade representa negativamente a pessoa para si mesma. A avaliação negativa de si mesmo, achar que a vida não vale a pena, que a realidade é sofrível, sentir medo exagerado, achar-se doente e toda sorte de pensamentos ruins resultam do Afeto alterado.
Resumindo essa questão da Afetividade vejamos um exemplo ilustrativo. Vamos nos imaginar em meio à uma briga de rua. Nosso medo (ou ansiedade) será diretamente proporcional ao tamanho de nosso adversário; quanto maior nosso adversário maior o medo. E como avaliamos o tamanho de nosso adversário? Seu tamanho será avaliado sempre em comparação ao nosso próprio tamanho, pois, nosso único parâmetro de comparação sera sempre nós mesmos.
Não importa nosso adversário ser maior ou menor que uma outra pessoa qualquer, importa apenas ser maior ou menor que nós. E como sabemos exatamente nosso próprio tamanho? Quem diz se somos grandes ou pequenos, fortes ou fracos, espertos ou não, superiores ou não ao adversário será nossa Afetividade, esse apetrecho psíquico que dá valor à tudo em nossa vida e, principalmente, nos dá o valor de nós mesmos.
Se uma Afetividade alterada fizer pensar em nós mesmos como pequenos, fracos, pouco espertos e piores, então teremos medo em lutar até com uma criança. Nos amedrontaremos e sentiremos muita ansiedade diante de tudo na vida; diante das multidões, dos ambientes fechados, de viajarmos sozinhos, da solidão, da idéia de estarmos doentes, e assim por diante.


(Ballone GJ - Afetividade)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PEDAÇO DE MIM







Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar


Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais


Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu


Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi


Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus



(Composição: Chico Buarque)


domingo, 16 de outubro de 2011

ACEITAR AS PESSOAS






Ouvi dois amigos conversando e um deles se queixava da incompreensão das pessoas, das agressões verbais, dos desentendimentos. Isto o revoltava e ele dizia invejar a serenidade e o equilíbrio do interlocutor.


- Qual é o segredo? perguntou.


- Não existe segredo, mas somente paixão pela vida e esforços contínuos para aprender, respondeu o outro.


- Aprender o que?


- A aceitar as pessoas, mesmo que ela nos desapontem, quando não aceitam os ideais que escolhemos. Quando nos agridem e nos ferem com palavras e atitudes impensadas.


- Mas é muito difícil aceitar pessoas assim.


- É verdade. É difícil aceitá-las como elas são e não como gostaríamos que elas fossem. Mas qual é o nosso direito de mudá-las?


- E como você consegue?


- Estou aprendendo a amar. Estou aprendendo a escutar, mas não apenas com os ouvidos, também com os olhos, com o coração, com a alma, com todos os sentidos. Muitas vezes as pessoas não falam com palavras, mas com a postura. Fique atento para os que falam com os ombros caídos, os olhos e as mãos irrequietas.


Assim como você pode ler as entrelinhas de um texto, pode ouvir coisas entre as frases de uma conversa corriqueira, banal, que somente o coração pode ouvir. Não raro, há angústia e desespero disfarçados, insegurança escondida em palavras ásperas, solidão fantasiada na tagarelice. Aos poucos estou aprendendo a amar, e amando estou aprendendo a perdoar. Perdoando, apago as mágoas e curo as feridas, sem deixar cicatrizes nos corações magoados e tristes. Aprendo com a vida o valor de cada vida e procuro entender os rejeitados, os incompreendidos. Nem sempre consigo, mas estou tentando.




Amilcar Del Chiaro Filho no livro "A Minha Paz Vos Dou..."


     

quinta-feira, 13 de outubro de 2011


MANEIRAS DE VER






Onde você vê um obstáculo, alguém vê o término da viagem e o outro vê uma chance de crescer.


Onde você vê um motivo pra se irritar,  alguém vê a tragédia total e o outro vê uma prova para sua paciência.


Onde você vê a morte, alguém vê o fim e o outro vê o começo de uma nova etapa.


Onde você vê a fortuna, alguém vê a riqueza material e o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.


Onde você vê a teimosia, alguém vê a ignorância, um outro compreende as limitações do companheiro, percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo e que é inútil querer apressar o passo do outro, a não ser que ele deseje isso.


Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar. Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura. 




(Fernando Pessoa)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

 IDENTIFICANDO OS SENTIMENTOS E A VIVÊNCIA DA DOR







Estava conversando por e-mail com uma amiga  que me disse que pouco troca experiências com mães que perderam filhos. E que as pessoas sempre lhe falam em ser forte, que vai passar, o tempo cura, e tudo o mais.
E me perguntando se já me falaram para lembrar dos momentos felizes que passei junto com a Ana Cláudia. De que valeu a pena ter vivido com a Ana Cláudia durante o tempo que ela esteve junto conosco. De que, se eu tivesse que escolher: - ter vivido sem tê-la ou ter vivido com ela apenas por tão pouco tempo, mas que foi intenso. O que eu preferiria? Qual o meu sentimento ou reflexão quanto as pessoas que falaram sobre isso comigo.
E me perguntou ainda: -Será que as pessoas que falam isso é porque não são mães, ou que não perderam filhos, ou que não amam ou amaram seus filhos o suficiente para se sentirem tão despedaçadas. Será que perder um filho seria o mesmo que perder pai, mãe, irmão, mesmo os amando muito?
E me dizendo que para ela isso tudo é muito conflitante.
Então eu lhe respondi o seguinte:


- As palavras das pessoas nos dizendo para sermos fortes e que vai passar. É UTOPIA.
 As feridas no peito estão aqui, não se fecham, não cicatrizam, são só amenizadas por esse "tempo" que todos insistem em nos falar. Não sei se felizmente ou infelizmente tenho sentido isso, que só mesmo o tempo vai amenizando tanta dor. Como já citei em um texto anterior, como gotas homeopáticas.
A minha experiência de vida é que foi alterada, antes eram tantos planos, tantos sonhos, tantas vontades, agora, é uma tristeza que não tem fim. Os dias estão passando, o mundo lá fora continua girando, pessoas indo e vindo, mas vivo do meu passado. Estou empurrando com a barriga (como diz o ditado), tenho outra filha e um marido que tenho que dar atenção, carinho e amor, mas não é fácil, nada fácil dar seqüência em uma família amputada de um ser integrante e tão radiante.
O que tem me ajudado a enfrentar esses dias são minhas amigas, as quais também perderam seus filhos, é com elas que eu divido minha tristeza e elas me compreendem assim como eu as compreendo.
 É uma forma que temos de verbalizar nossos sentimentos, colocando tudo para fora o que nos dói o que nos incomoda desses tipos de comentários ou qualquer outro assunto que nos perturbe. 
Realmente tivemos filhos espetaculares, o nosso desejo maior é de que ainda estivessem aqui conosco e que nós fossemos embora antes deles, esta é a ordem cronológica da vida.
Hoje vivemos outra realidade que não queremos para nós, ela nos foi imposta pela vida, nosso futuro, não sabemos, e eu nem quero saber, sempre digo para as pessoas que vêem me perguntar: 
- O que você vai fazer no Natal, no Ano Novo? Então eu digo: 
- Não sei, penso no máximo do máximo com um semana de antecedência, pois tudo o que eu imaginava para mais adiante foi por água abaixo. 
Os conflitos que hoje ela vive eram os meus também.
 As pessoas que nos falam tais coisas é que não sentiram a dor da perda de um filho, vivem uma outra realidade e amam seus filhos da forma que sabem amá-los, sem pensar na possibilidade de perdê-los. Era como viviamos também, sem termos noção da dor que outras mães já haviam passado e que hoje fazem parte de nossas vidas.
 O que mais vale hoje é o que está dentro de mim, o meu sentimento, o meu amor e a minha dor, a qual só eu sei o tamanho e como enfrentá-la e suportá-la.