terça-feira, 29 de novembro de 2011

LUTO: UM TEMPO TEMIDO, UM TEMPO NECESSÁRIO 




PARA QUEM PERDEU ALGUÉM 
Embora a morte faça parte do desenvolvimento humano, lutamos durante a vida pela idéia da imortalidade, e tentamos negar qualquer possibilidade de perda das pessoas que amamos. Quando a morte acontece, a sensação de dor é tão grande que temos a impressão de que vivemos um pesadelo que, em breve, vai passar. A tarefa mais difícil é constatar que o sonho é real e que é impossível fugir dele. Abre-se um imenso buraco, e a sensação de vazio invade a alma com muita força. É como se ficássemos órfãos de nossas próprias crenças, e sem esperança de poder continuar vivendo depois deste duro golpe. O curso do tempo, que até então era sem importância, passa a ser um inimigo a ser enfrentado e, só aos poucos, descobre-se que é dele que virá o acalento. Talvez, neste exato momento, muitos de vocês se sintam assim, experimentando um terrível vazio, e sem ânimo para continuar vivendo. Este é o início de um tempo muito difícil, de um tempo de dor, de um tempo de mudanças e transformações por dentro e por fora também. Este é o tempo do luto. 


POR QUE DÓI TANTO?
 A dor que dói dentro do peito é do tamanho da ligação que se tinha com quem partiu. Leva tempo para nos ligarmos a uma pessoa e, portanto, será necessário também um longo tempo para nos desligarmos dela. Desligar não é esquecer, mas é poder viver com a lembrança da pessoa que partiu sem se machucar tanto. Com o passar dos dias e dos meses, essa dor se transformará em saudade e lembranças.


QUANTO TEMPO VAI DURAR ESSE SOFRIMENTO? 
É preciso entender que, neste processo de luto, há dois tempos correndo juntos: 
O tempo do relógio e o tempo interno de cada um. Estes tempos nem sempre são coincidentes. 
O tempo do relógio marcará as horas, os dias, as semanas, o mês e os anos; mas o tempo de dentro tem uma marcação diferente. Ele anda conforme as sensações e sentimentos de cada um; por isso o tempo do luto é diferente para cada pessoa. Haverá dias em que a ausência parecerá algo muito recente, algo ainda muito doído. Em outros momentos, haverá uma impressão de melhora, como se o sentimento de falta houvesse rapidamente passado. Sem dúvida, o tempo do relógio irá ajudar o enlutado a entrar novamente na realidade, com o difícil encargo de aprender a conviver com o sofrimento. Mas, como as pessoas são diferentes, vivem seus sentimentos de forma diferente, e também elaboram o luto em tempos diferentes e de forma muito pessoal. 


OS PRIMEIROS DIAS... 
O dia do falecimento de alguém que amamos é, com certeza, um dia em que tudo parece ser parte de um filme do qual você nunca mais esquecerá. Uma sensação de que o chão se abriu e de que você tem de ser “forte” para não cair, mas suas pernas e seu corpo não controlam tantas emoções e tanta dor. Os encaminhamentos práticos – velório, sepultamento, avisar parentes e amigos – talvez o distancie um pouco das emoções, mas em algum momento você vai ter de lidar com elas. O estado de confusão é muito comum nestes primeiros dias. Crises de choro, depressões, alterações de sono, de apetite e de humor são reações esperadas. Nesse momento, muitas coisas perderão o sentido para quem vive o luto. Até as tarefas mais simples do dia-a-dia poderão ser difíceis demais de serem realizadas. Quem quiser prestar um apoio, a alguém que vive o luto, poderá realizar essas tarefas cotidianas para permitir que o enlutado se restabeleça e, aos poucos, volte à sua rotina. Voltar para casa sempre é difícil, pois representa voltar para a vida sem a pessoa que perdemos. Esta volta pode ser adiada por alguns dias, mas em algum momento terá de acontecer e será acompanhada de sofrimento. A rotina diária vai contando o que aconteceu e, por isso, os primeiros dias são tão doloridos e difíceis. Todo apoio é bem-vindo nesse momento, mas é preciso que a pessoa que deseja ajudar também esteja pronta para ouvir e enxugar as lágrimas que vão rolar. Não tente impedir o
enlutado de sofrer a sua dor, de sentir saudade... ele precisa “dar palavras a sua tristeza porque o pesar que não fala endurece o coração já sofrido” (Shakespeare).


 OS ANIVERSÁRIOS E AS DATAS COMEMORATIVAS... 
As datas de aniversário de nascimento e morte, assim como outras datas comemorativas, são ocasiões de muito impacto e recordações. Portanto, alterações emocionais são esperadas nestas circunstâncias. Mas, essas datas não podem ser apagadas do calendário, por mais sofrimento que tragam. É preciso, ao contrário, reaprender a conviver com esses dias e a comemorá-los de um jeito diferente. O Dia de Finados, em especial, além de homenagear os entes queridos, leva-nos a pensar no enigma da morte, em nossos limites e fraquezas, confrontando-nos com o fato de que somos mortais e fazendo-nos repensar a forma como estamos lidando com a vida. 


COMO POSSO AJUDAR UMA PESSOA ENLUTADA? 
Todo apoio e cuidado dos familiares e amigos é bem-vindo, já que a sensação de perda gera instabilidade, desamparo e confusão. Se você quer ajudar um enlutado, atente para algumas orientações: 
- É necessário, em primeiro lugar, que você o deixe expressar sua dor, permitindo que ele demonstre a saudade da forma que puder; 
- Não o impeça de chorar e não lhe exija ser mais forte; 
- Seja paciente com as reações diferentes e inesperadas do enlutado; 
- Esteja por perto e coloque-se à disposição para ajudá-lo naquilo que for preciso. Nesse momento, tarefas simples do dia-a-dia podem parecer difíceis de serem realizadas sem auxilio; 
- Nunca diga: “foi melhor assim”; pois nem sempre o será para a pessoa que ficou; 
- Não finja que nada aconteceu nem fique tentando distrair a pessoa; 
- Deixe-a expressar-se por meio de sua espiritualidade e de suas crenças, mesmo que você não partilhe delas. Enfim, se você quer realmente ajudar, escute o enlutado sem interferir em seus sentimentos. Às vezes, um abraço e o silêncio são mais eficazes do que um milhão de palavras.


Lembre-se de que a morte, embora seja um processo natural da vida, é um grande enigma para o homem, e a dor da perda sempre será o seu maior sofrimento.


( Ana Lúcia Naletto e Lélia de Cássia Faleiros Oliveira são psicólogas clínicas do centro de Psicologia Maiêutica, especializadas no trabalho com enlutados, e desenvolvem projetos de apoio à família no Cemitério Primaveras - Guarulhos - SP, por meio de palestras e grupos. (2009)







terça-feira, 22 de novembro de 2011


AMOR, PERDAS, PARTIDAS E SAUDADE...



“Falar em perdas é falar em solidão, tristeza, desesperança, medo.” 
Quando digo perdas, não estou me referindo apenas aos que morrem, mas a todos que, de alguma forma, nos deixam prematuramente, antes que estejamos preparados. 
Um amigo que se muda para longe, um namoro interrompido abruptamente e até mesmo um ente querido que se vai, sempre provoca em nós uma sensação de vazio. 
E por que isso? Porque sofremos tanto mesmo sabendo que estas perdas ou partidas inesperadas são inerentes à vida e que, portanto, não podemos controlá-las? 
Não saberia responder com precisão as perguntas acima, mas, o que me parece mais coerente é que nunca estaremos prontos para nos acostumarmos com a falta dos que amamos. Por mais que saibamos que a qualquer instante eles nos faltarão, temos sempre a predisposição em acreditarmos que quem nos ama nunca nos trairia, nos privando de seu afeto, carinho e amor. 
Ledo engano. 
São justamente aqueles que amamos que mais nos machucam com suas partidas inesperadas. 
Vão-se sem aviso prévio e nos levam a felicidade, a fé na vida, o equilíbrio. 
O que fazer então? Não amarmos? Não nos permitirmos gostar de alguém pelo simples fato de que seremos, mais cedo ou mais tarde, deixados para trás na vida, entregues às nossas angústias e remorsos por não termos dito tudo ou feito o suficiente por eles? 
Creio que não. 
Se há algo na vida que mais nos trás felicidade é sabermos que somos queridos e não seria honesto nos privarmos de tal sentimento por covardia. 
Um amor de pai e mãe, o carinho de um amigo ou afeto de uma relação a dois deve sempre se sobrepujar ao medo da perda. 
Porque ela é inevitável; o sentimento, não. Deve ser exercitado todos os dias de nossas breves vidas. 
Ele é o que nos move, nos dá o chão para que possamos caminhar pela vida com a certeza de que, haja o que houver, teremos sempre alguém com quem contar, que nos apoiará mesmo nos momentos em que não tenhamos razão. 
Esta, deve ser a maior lição deixada pelos que partem sem nos avisar. Lembrar-nos que devemos sempre curtir aqueles que amamos com a intensidade proporcional à brevidade de uma vida. 
Porque, quando nos faltarem, saberemos que amamos e fomos amados, que demos e recebemos todo o carinho esperado, que construímos um sentimento que nenhuma perda poderá apagar. Este sentimento transcende o espaço e o tempo, não se limita ao contato físico. 
Torna-se parte de nós, impregnado em nossa alma, nos confortando nos dias difíceis, sendo cúmplice de nossas vitórias pessoais, norteando nossa conduta, nos fazendo sentir eternamente amados. 
Que me perdoem os físicos, mas, neste caso, acredito sim que dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço. 
Basta que permitamos sentir a presença dos que amamos dentro de nós, como se fossem parte de nossa alma. Só assim seremos inteiros. 
“Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós".
(Autor Desconhecido)

 
 








 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

DIFICULDADES DE EXPRESSARMOS NOSSOS SENTIMENTOS À QUEM AMAMOS




Um dos aspectos da perda, e talvez o que causa ainda  mais dor, é a perda de alguém fisicamente.

 Quando alguém que nos é querido parte, temos sempre a sensação… hum… sensação ou certeza de que podíamos ter dito e feito muito mais.
 Adiamos sempre os gestos de ternura, os perdões, os amo-te, os abraços fortes… os passeios a pé, os silêncios confortáveis de profunda partilha… e um dia o Universo diz: acabou o prazo!
Parece que nos puxam o tapete debaixo dos pés! Sentimo-nos traídos, como se tivéssemos o direito de dar opinião acerca do “destino” dos outros… 
Sentimo-nos vazios…
 Esta dor é quase insuportável, mas como tudo na vida, o tempo dá uma mãozinha. Só mesmo esse tempo para amenizar o sofrimento, muitas noites passamos sem dormir, dias e dias sem nos alimentarmos, sem querer sair da cama, muitas lágrimas de intensa frustração derramamos, mas é tarde…
 Sem pressão, seria bom que todos mantivéssemos em mente este fato, que pode acontecer a qualquer momento. 
O nosso pai, a nossa mãe, um irmão, um filho, uma filha, o nosso companheiro, uma avozinha,um amigo pode terminar a sua caminhada. É a lei natural da vida. É incontornável.
A qualquer momento, o anjo da morte léva-nos alguém que amamos. Esse alguém pode ser um daqueles a quem nós não tivemos coragem de dizer: amo-te tanto! Admiro-te tanto. És tão importante para mim.
Temos tantas dificuldades em expressar nossos sentimentos. 
E agora depois que se foram sentimo-nos mais arrasados ainda e infelizmente ficamos calados...
E que nos deixam mais marcas profundas.


(Texto Original Esfera Feminina - Vera Xavier modificado por Liane T. Caron)

terça-feira, 8 de novembro de 2011


A MORTE DE UM FILHO JOVEM EM CIRCUNSTÂNCIA VIOLENTA: COMPREENDENDO A VIVÊNCIA DA MÃE




Atualmente a violência vem ganhando espaço e crescendo de maneira assustadora. O aumento de mortes de  jovens  por  homicídio é cada vez mais alarmante, sendo considerado, já em 1996 pela Organização Mundial de Saúde ( OMS ), como um importante problema de saúde pública.

A morte de um jovem é interpretada como interrupção no seu ciclo biológico e isso provoca sentimentos de impotência, frustração, tristeza, dor, sofrimento e angústia. Sabe-se que a morte é um fato inevitável, contudo, é difícil aceitar que aconteça precocemente.  Lidar  com a morte é uma questão difícil, muito pior quando ocorre com um filho, isso porque a morte de um jovem é uma situação que não é naturalmente pensada pela família, pois o normal seria que os pais morressem antes na perspectiva do ciclo vital.
Se a morte ocorre de maneira brusca e inesperada, é possível que o sentimento materno de perda irreparável se agrave, levando à não aceitação, desorganização e impotência da mãe.
Os sentimentos vivenciados pelas mães que perderam seus filhos por homicídio alimentam a busca de justiça e punição dos culpados, a ânsia de compreender o que aconteceu e a necessidade de expressar a dor e falar sobre a tragédia vivenciada, o que pode caracterizar possível fator de risco para o desenvolvimento de um luto complicado.

As mães que passaram por uma vivência de perda possuem características semelhantes , reveladas nas categorias analisadas a seguir:
Mumificando o filho na memória;
Morte e publicidade: trilhando dois caminhos;
Suportando a dor da morte de um filho: apego à espiritualidade;
Cumplicidade materna;

MUMIFICANDO O FILHO NA MEMÓRIA:
A perda de um filho se revela como um sofrimento intenso e complexo, isso porque, a intensidade da sintomatologia e duração do processo de luto parental frequentemente difere dos processos de luto por outros tipos de perda.
Para as mães, os sentimentos e o sofrimento pela circunstância da morte dos filhos são preservados e revividos a cada lembrança. Mesmo tendo ocorrido há muito tempo, cada uma relata minuciosamente cada detalhe do caso ocorrido com seu filho e descreve a seqüência dos fatos, com lembranças de horários, roupas, falas e desejos do filho antes de morrer.
Os relatos das mães revelaram o persistente estado de ligação, do vínculo de amor estabelecido com o filho que morreu, gerando elevadíssimos níveis de angústia.
Outro fator complicador para a vivência da perda de um filho por assassinato é a violência física contra seu corpo, que desperta nas mães a revolta e o desespero.
Em estudos as mortes por homicídios ocorridos por asfixia, armam de fogo, arma branca e agressões contra a vítima (estupro), mortes violentas que persistem na lembrança de cada mãe como “uma morte não digna”, aumentando a dor a cada momento e fazendo-a imaginar os instantes de sofrimento de seu filho ao morrer clamando por ajuda.
O estado em que fica a pessoa que morreu pode ter forte influência na memória e lembranças que se têm. Os discursos das mães revelam que essas lembranças são insuportáveis.
Apesar da inaceitabilidade da morte dos filhos, as mães não negam a morte desse filho. No entanto, é de intensa magnitude o apego às lembranças e à memória que elas carregam, sobretudo em relação ao filho, as quais são revividas intensamente, não importando quanto tempo tenha se passado.
Isso se  leva a acreditar em uma mumificação da memória materna, que conduz as mães ao desespero e a uma situação insustentável, mas também  significa a preservação do vínculo saudável com seu filho. Essa mumificação na memória se revela como um retornar do filho ao útero materno, para a proteção e privacidade de sentimentos tão nobres e delicados. Esta mumificação parece não significar negação da morte ou esperança de retorno do filho assassinado, e sim, demonstrar uma profunda ligação afetiva e desejo de justiça.
As reações de dor e sofrimento intenso, a mumificação das lembranças das mães diante da morte de um filho, revelam que as famílias acometidas pela violência não estão tendo assistência adequada, não têm o apoio necessário para o enfrentamento de tamanha tragédia, que pode atingir de forma negativa sua vida pessoal, familiar e social.

MORTE E PUBLICIDADE: TRILHANDO DOIS CAMINHOS
A mídia, em suas diversas formas, difunde amplamente junto à população os fatos de interesse ou que causam impacto. Das notícias por ela propagadas a violência está entre as mais comuns, em função dos seus índices crescentes e alarmantes. Neste sistema de informação, pelo interesse na audiência, existe uma evidente invasão da imprensa a qual transforma a perda em morte pública, levando a uma desumanização da morte e banalização do sofrimento.
Na posição de edição, escolhem os acontecimentos, as mortes que merecem “investimentos”, aquelas que resultarão em audiência e renderão leitura. Para isso invadem os locais dos acontecimentos, buscam relatos dos familiares, e com essa função, certamente correm o risco de atravessar a linha do bom senso e do respeito.
É patente a reação de repúdio e oposição da maioria das mães às atitudes dos repórteres ante a morte de seus filhos. Elas relatam a situação de desconforto em que foram colocadas pela imprensa sensacionalista, que invadiu sua privacidade somente pela busca de notícia e audiência.
São evidentes os problemas da cobertura jornalística e a falta de sensibilidade que permeiam os momentos de tragédia. A linha entre o dever de informar sobre uma tragédia e o respeito aos direitos dos que querem sofrer longe das lentes e dos microfones é muito  tênue e exige dos jornalistas grande respeito e sensibilidade.
Mas a massificação desses meios de comunicação aprofundam a tendência a transformar mortes trágicas em notícias, e de modo quase simultâneo, destacam a coisificação da morte. Deste modo, a morte se torna pública, impessoal, perdendo o seu caráter existencial, como a mais irremissível de todas as possibilidades.
Essas práticas que invadem e expõem a dor do outro, principalmente em se tratando de pessoas pobres e/ou anônimas, são comuns nos jornais e emissoras ditas populares, que vendem muito com as tragédias anunciadas.
Não obstante, o tratamento dado à notícia e a atitude da mídia diante da vítima e dos familiares dependem do perfil do órgão. Muitas vezes a mídia revela uma função positiva quanto à divulgação da informação, o que torna necessário compreender seu papel por outro prisma. Elemento essencial em nossa sociedade, à mídia atua também como agente de denúncia e, igualmente, como um agente fixador da memória, ao contar e produzir uma história para a sociedade e propagar a informação, podendo intensificar a resolução dos casos.
Diante de várias situações vivenciadas pelas mães em relação à mídia e à publicidade da morte violenta de seus filhos, compreende-se a existência de dois caminhos trilhados pelos meios de comunicação ao divulgar a morte por homicídio, caminhos que são opostos e com diferentes consequências: a mídia pode-se revelar como uma invasora de privacidade e, sob outra perspectiva, como uma aliada na busca de justiça e, indiretamente, na compreensão da dor da perda das mães.

SUPORTANDO A DOR DA MORTE DE UM FILHO: O APEGO À ESPIRITUALIDADE
O processo de vivência da perda refere-se às concepções que as mães têm do mundo, pois a perda pode pôr em causa, inicialmente, várias crenças e desafiar valores fundamentais na busca de compreensão da morte violenta de um filho.
Diante de uma morte cuja causa não é natural crescem os sentimentos de incompreensão, injustiça e revolta. A perda torna-se inaceitável, por tirar dos seus filhos o direito de viver, diferentemente de quando a morte acontece pelo processo natural de envelhecimento ou doença. Quando ela ocorre por ato de crueldade dos homens se torna inadmissível e inconformável para as mães.
A indignação, a revolta e o inconformismo das mães só encontraram guarida na espiritualidade, na crença de um mundo melhor que o mundo físico que se apresenta a elas - um mundo de violência, de desrespeito, de dor e sofrimento. Também, que outros recursos podem ter além da busca pelo sagrado?
As mães, logo de início, destacaram a crença em Deus como fortaleza para sobreviver  à morte violenta do filho.
É notória a relação intrínseca entre a religião e períodos críticos ou estressantes da vida.
Dificuldades, sofrimentos e conflitos representam o foco da atenção de orientações da religião de como lidar com a dor, perdas, fracassos, ou com sentimentos de impotência diante de problemas.
A fé, a religião, o poder divino – no dizer das mães - acabam por tornar tolerável o insuportável, ao oferecerem força para lidar com a tragédia e continuar vivendo.
Este aspecto do processo de reestruturação da vida após a perda de um  filho representa um desafio e mostra a necessidade de os profissionais refletirem sobre a relação entre a espiritualidade e o enfrentamento da perda, relação esta muitas vezes por eles negligenciada ou negada.

CUMPLICIDADE MATERNA (mães de filhos assassinados e mães de filhos assassinos)
A maternidade atravessa o dia-a-dia das mulheres desde a infância. Desde criança a menina brinca de boneca, de casinha, ocupando sempre o papel de mãe; e na descrição desse papel da infância encontra-se também a definição de maternidade como cuidadora e responsável pelo bem estar da família.
Esse simbolismo da maternidade unifica entre si as mulheres como únicas a vivenciarem o estado de gestação, nascimento e amamentação de seus filhos, criando também uma esfera emocional de compreensão exclusiva das mães nessas situações.
As maiorias das mães afirmam que a vivência da maternidade e da tragédia, ou seja, de uma maternidade estraçalhada, gera uma solidariedade e uma união muito fortes entre elas.  - Uma mãe relata:...a cada morte que acontece eu revivo em mim a dor, principalmente penso nessas mães que estão passando por isso nesse momento.
Ainda quando se alude às condições da perda de um filho por homicídio, envolvendo diretamente duas situações - a da vítima e a do assassino - é interessante destacar que esta solidariedade entre as mães firma-se na representação simbólica do amor materno, em que a mãe da vítima expõe seus sentimentos de solidariedade e apoio à mãe do assassino.
Assim, são duas as condições de perda de um filho: uma é a da mãe na posição de perder um filho assassinado bruscamente e outra a da mãe na posição de perder um filho para o mundo do crime.
Essa “irmandade” de sentimentos é geralmente aclamada por todas as mães.
Assim, revelá-se que, nos discursos das mães que perderam seus filhos por assassínio, todas acabam por  ser cúmplices e solidárias, até com aquelas mães em relação às quais, pela lógica, isso seria impossível: AS MÃES DOS ASSASSINOS DE SEUS FILHOS. As mães das vítimas reconhecem que essas mães também estão sofrendo, também perderam um filho, e nunca desejam vingança, e sim, punição dos assassinos.

JUSTIÇA X IMPUNIDADE
Para aqueles cuja pessoa amada foi vítima de homicídio, continuar o luto é difícil, senão impossível, até que os aspectos legais do caso sejam resolvidos.
Com a realidade da violência tornando-se parte de suas vidas e com a vivência cruel da impunidade, as mães revelam a construção de uma nova representação: mães que buscam justiça, mães que aparecem nas ruas, que invadem os órgãos públicos, por causa de uma dura realidade que sofrem em comum: A VIOLÊNCIA CONTRA SEUS FILHOS.
Considera-se, ainda, que estas famílias, além da morte dos filhos e da impunidade dos assassinos, trazem a vivência de outras situações múltiplas de violência, num contexto de violência institucional, social, econômica, uma vez que se defrontam com situações relacionadas à justiça como inacessibilidade a autoridades e a informações sobre a resolução dos crimes.
A dor passa a ser uma realidade eternamente presente nas vidas das mães, e é desta dor versus amor que nasce a força para o surgimento da mãe justiceira.
A esperança de reencontrar o filho até não existe mais para essas mães, contudo, permanece a luta, nem que seja pelos outros filhos, pelos filhos de outras mães, para que isso “não volte nunca mais a acontecer”. Essa busca de punição, de que se faça justiça, acaba sendo um motivador, um incentivo de vida.
Com a maternidade a mãe incorpora a função de proteger, cuidar e garantir o bem-estar físico, emocional e social do filho. A perda de um filho representa, para ela, fracasso em sua função materna, e ela se sente roubada em seu papel de proteger e de ser necessária a algo ou alguém. Com o assassinato do filho vem à culpa pela crença de ter falhado em sua proteção, sentindo-se ela responsável pelo que aconteceu, por falhar no dever de cuidar.
Assim, o desejo de justiça se faz indispensável para elas. Quando há a punição do assassino parece que grande parte deste sentimento desaparece, uma vez que as mães podem verificar e dizer que os culpados foram punidos. A condenação, assim, é também uma forma de diminuir a inevitável culpa que elas sentem pelo ocorrido.
Algumas tragédias não escolhem classes sociais, mas o status conta muito quando se trata de reivindicar e garantir direitos. Existe uma constatação evidente de que JUSTIÇA NÃO É SINÔNIMO DE LEI.
Todavia, mesmo neste contexto, as mães sofredoras responsáveis pelos filhos, apeadas de seus direitos, ainda persistem em converter a dor em ação, procurando fazer justiça. A impunidade dos assassinos desvelou uma influência negativa na aceitação da perda do filho e na sua elaboração por parte da mãe.
Podemos dizer que as pesquisas e discussões sobre a questão da morte possuem uma trajetória de conquistas e avanços, mas também um horizonte de muitos desafios, ainda mais quando se pensa em uma rede de apoio em suas diversas áreas – saúde, social, segurança, judicial - para os que vivenciam as perdas.  A dor da perda deveria ser acolhida e compartilhada por esta rede social, que deveria também assegurar amparo e segurança efetiva para a sociedade.
A compreensão das vivências das mães que perderam seus filhos de forma violenta colabora para um olhar mais compreensivo para a perda, possibilitando o enfrentamento da morte com dignidade e apoio. Cria a perspectiva de intervenções profissionais mais adequadas, em que as mães sejam ouvidas e acolhidas. Intervenções capazes de propiciar-lhes melhor superação da dor, a expressão dos seus sentimentos e um reinvestir em suas vidas e desejos. Demonstra ainda, a necessidade de políticas pública para juventude e segurança para sociedade.

(Estudo realizado por: Ana Carolina Jacinto Alarcão, Maria Dalva de Barros Carvalho e Sandra Marisa Pelloso - Universidade Estadual de Maringá - PR/2008).

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


DE TUDO FICAM TRÊS COISAS




De Tudo Ficam Três Coisas:


A certeza de estarmos sempre começando
A certeza de que é preciso continuar
E a certeza de que podemos ser
Interrompidos antes de terminarmos.


Portanto:


Fazer da interrupção um caminho novo,
Da queda um passo de dança,
Do medo uma escada,
Do sonho uma ponte, 
Da procura um encontro.


(AUTOR:Fernando Sabino)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

  FINADOS. ATÉ A PALAVRA LEMBRA "FIM".





Vem do latim "finis" que significa “limite, fronteira, marco divisório". 
No último capítulo do último livro da Bíblia, o Senhor se chama do “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” (Apoc 22:13). “Principium et Finis” no Latim. Fim. 
Finados. Um dia de lembrar os que já viram seus dias findarem, que já chegaram ao fim desta vida.
Independente das suas crenças ou convicções religosas, é provável que você ou algum membro da sua família irá visitar um cemitério ou jazigo, irá lembrar pessoas queridas que já se foram. Há praticamente um sentimento em comum. De perda e de separação. Da barreira insuperável que é a morte. O rei Davi, ao lamentar a morte de seu filho recém nascido, expressou bem o sentimento para com a perda da criança “eu irei a ela, porém ela não voltará para mim.” (2 Samuel 12:23).
Morte. Morto. A palavra que todo mundo teme ouvir sobre seus entes queridos. A palavra que quando cai nos ouvidos suga a força, a esperança, e, às vezes, até a vontade de viver. Tão poderosa esta palavra. Jamais se imagina ver aquela pessoa de novo nesta vida. Finis. Finados. Fim.
No feriado de Finados, você lembra os mortos da sua vida. Pai, ou mãe, ou ambos. Um(a) filho(a), irmão(ã). Marido ou esposa. Aquela pessoa de quem você tanto sente falta. Talvez há meses, talvez há anos. Em momentos como aniversários, Natal, Finados, aquela dor parece voltar com força total.
No dia que esse ente querido se foi, no dia do enterro, ao lado do caixão, você teria dado qualquer coisa para tê-lo de volta. Se ele pudesse ser ressuscitado, se pudesse voltar à vida, o que você não teria dado para que ele voltasse a viver?
Mas, depois que esses dias passarem, ou ainda hoje, lembre-se da palavra do pai do filho pródigo. 
Como ele descreveu o estado do seu filho – morto. 
Vivo, fisicamente, sim. Mas, para o pai, para Deus, e para a eternidade – o rapaz estava morto.
Se Jesus é o Fim, ele estará lá no fim. No fim do túnel. No fim da jornada. No fim da vida. 
Esta vida, sim, tem fim.
Que Deus lhe abençoe.


(Texto: Iluminalma)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

 PARA EXPRESSAR O MEU AMOR POR VOCÊ




                              I LOVE YOU VERY MUCH, TOO
                                                FOREVER