O LUTO PARA QUEM PERDE UM FILHO(A) E ENFRENTA A DOR
O luto de quem perde um(a) filho(a) é diferente de qualquer outro. Tem o poder de destruir uma família e tornar insuportável o peso de tocar a vida adiante.
"A vida perdeu o sentido". "Em situações como essa, quem fica tem a sensação de que não pode ser feliz nunca mais, porque seria desleal com o(a) filho(a) que se foi".
Para qualquer pai ou mãe, os filhos(as) são a continuação de sua história. “A criança sai do ventre da mãe para ficar no mundo depois que ela se for”.
Os pais escolhem seus carros, o lugar onde vão morar e, em muitos casos, até mesmo os empregos em função dos filhos(as). Perdê-los(as) equivale a decretar o fracasso de tudo aquilo pelo qual se viveu.
“A primeira coisa que se pensa é: nunca mais terei alegria na vida”. “Com um(a) filho(a), morre também a esperança de imortalidade, que é um desejo primitivo e fundamental.”
É bom saber que existem profissionais ocupados em confortar e consolar quem é vítima de uma dor como essa. Na prática, eles pouco podem fazer. A morte é sempre motivo de angústia e tristeza. Mas a perda de um(a) filho(a) é uma tragédia contra a natureza, um desastre além da razão. Nessa situação, muitos emudecem.
“A experiência do luto vem da infância”, o bebê, por volta dos 6 meses, se dá conta pela primeira vez que a mãe não está ali com ele, e acha que ela não voltará mais. É seu primeiro luto.
A perda de um parente sempre traz de volta a angústia da criança sozinha no mundo, a vontade de se encolher, enfiar-se num buraco na terra e jamais sair dali. Quando a pessoa desaparecida é um pai ou uma mãe, o choque é de certa maneira esperado. Quando a perda é de um(a) filho(a), porém, a cicatrização parece impossível.
“O tempo só piora, a dor nunca acaba. Cada dia é mais um dia sem ele(a). A sensação do ‘nunca’ é a pior que se pode sentir”.
O ritmo de vida de nossa sociedade torna quase impossível lidar com a perda de uma pessoa da família.
“A recuperação leva muito tempo, e simplesmente ninguém tem tempo”.
As pessoas que entravam em luto passavam meses e meses afastadas do convívio social, e um tempo considerável longe do trabalho. Quando saíam à rua, vestidas(os) de preto, deixavam claro seu estado de espírito. “Hoje todos têm de voltar rapidamente à vida produtiva. É um tal de dizer ‘não chora, passa logo por cima, vai em frente’”.
Exige-se que as pessoas enlutadas cumpram regras, horários e cargas de trabalho que não têm condições de suportar.
“É comum que os casais se separem, porque um passa a pôr a culpa no outro. Um culpado ajuda a aliviar a dor”.
Ao perder uma criança ou um adolescente, não há pai que não ache que poderia ter feito algo para evitar a tragédia.
Mas temos que adquirir forças para cuidar dos que ficaram.
COMO ENFRENTAR A DOR:
O que os especialistas recomendam:
Procurar orientação médica: auxílio profissional é imprescindível no processo de aceitação da perda. O gesto de falar sobre a dor com alguém de fora da família é benéfico, serve como uma espécie de ritual para aliviar o sofrimento.
Manter a rotina: as atividades do cotidiano – escola, trabalho, convívio social – não devem ser paralisadas. Isso só aumenta a sensação de que a vida acabou junto com a do(a) filho(a).
Enfrentar a dor: falar sobre a tragédia, ver fotografias e chorar sempre que tiver vontade ajuda. O luto é elaborado na medida em que se entra em contato com a dor.
Evitar a culpa: quem se acha culpado julga também que poderia ter evitado a tragédia – o que é uma fantasia de onipotência. Esse pensamento impede que se viva a realidade da perda. A culpa é, em certa medida, uma forma de fugir da dor.
Tirar lições da morte: POR MAIS DOLOROSOS QUE SEJAM, todos os fatos da vida trazem alguma lição. Segundo os terapeutas, quem deixa de tirar lições da dor vai reviver a sensação de perda constantemente.
Encontrar uma válvula de escape: CADA PESSOA DEVE ACHAR SEU CAMINHO. Para uns é a religião, para outros é assumir uma causa ou dedicar-se às artes. O importante é não ficar paralisado pela dor.
Falar a verdade: não esconder as circunstâncias ou causas da morte, independentemente de tabus e preconceitos. Quando isso não acontece, as pessoas correm o risco de repetir a história e entrar numa ciranda de perdas sucessivas.
(Fonte: Instituto de Psiquiatria e Psicoterapia da Infância e Adolescência de São Paulo)