13 ANOS DE SAUDADE - ANA CLÁUDIA CARON
Oi filha, mais um ano longe de
você. O tempo correndo...parece que acordei para a realidade a pouco, não tenho
mais aquele torpor que me acompanhou por anos. Quanta coisa e situações já
vivemos aqui nesses 13 anos do nosso último olhar.
Vivi muitos dias e noites de
tormentos e incertezas, não que isso tenha acabado. Agora estou acordada, vendo
o meu dia a dia. Antes estava feito um zumbi ou tipo aquele boneco do posto de
gasolina, o tal do João bobo, sendo empurrada ou direcionada para algum lugar,
sem saber o que estava fazendo. Conselhos e palpites como deveria
prosseguir...inúmeros, palavras feitas escutei aos montes..., mas quem sou eu
para criticar alguém que nunca passou pela perda de uma pessoa querida e amada
como você. Aprendi a escutar e tirar para mim o que me trazia conforto e
esperança para continuar.
Dias difíceis...queria eu, ter ido
no seu lugar...
É o que toda mãe que perde uma
filha, um filho, queria ter feito. Você tinha tanta coisa por viver aqui ainda,
concretizando sonhos...
Fui atrás e também muita gente me
ajudou para ter uma conexão maior com a espiritualidade, você bem sabe... já
recebi suas mensagens que confortaram o meu coração. Mas infelizmente isso não
basta para uma mãe...
Como sempre nessas datas ou em um
dia qualquer onde a saudade nos invade e nos apunhala o coração, vivemos o
passado, o dia fatídico em que tudo aconteceu. Não tem como esquecer...
Um sentimento tão forte invade o
peito, de revolta, de tristeza, de angustia. Então, me pego a imaginar você
agora, com seus quase 32 anos, quem sabe casada, com certeza já formada,
trabalhando, e com algum netinho ou netinha para me alegrar.
Mas, não mais...
Imagino que exista uma outra vida
e que você esteja nela, seguindo os desígnios do no nosso pai maior, e que em
algum dia quando nos reencontrarmos saberemos o real motivo que nos separou.
Mas não é fácil minha filha, continuar aqui sem você. Sentimos uma falta
gigante de você, teu pai, tua irmã e eu.
Teu lugar na mesa, teu cheiro, teu
sorriso, teu abraço, tuas brincadeiras, tua gargalhada... quanta saudade...
Vontade de te abraçar e sentir o calor do teu corpo...
Enfim minha amada filha, a saudade
é muito grande que até o corpo chega a doer, tal qual a música do Chico Buarque
em que ele diz em versos:
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um
parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Imagino que a saudade sua aí de
onde você se encontra, talvez seja maior que a minha aqui, pois, você se foi
sem ninguém mais próximo daqui, a não ser o vô Lôlo e a vó Júlia.
Como gostaria de estar aí do seu
lado. Sei que minha hora irá chegar, todos estamos com o nosso bilhete de
partida, mas não sabemos para quando...
Vou cumprindo meu papel por aqui
de esposa, mãe, filha, irmã, amiga, enfim, todos os títulos que uma pessoa
ocupa dentro de uma família ou sociedade.
Mas o que eu mais quero mesmo
nesse dia minha filha é que Deus me permita um encontro com você, nem que seja
em um breve sonho para poder sentir o seu abraço.
Te amamos Ana Cláudia, nunca me
esqueço de você minha filha. És o meu primeiro pensamento quando abro os olhos
pela manhã e o último quando coloco a cabeça em meu travesseiro.
Me aguarde, logo, logo, estarei aí
contigo.