Como todos os anos seu pai e eu
nos refugiamos aqui no litoral. Onde podemos passar por essa data com menos
sofrimento e podemos relembrar muitos dos bons e felizes momentos que aqui
vivemos com você e com a família.
Imagino como sempre que, de onde
você se encontra agora tenha nos seguido diariamente com todas as mudanças e
situações de vida e saúde pelas quais temos passado.
Procuro imaginar que através do
que lhe escrevo você consiga entender meus questionamentos dessa vida aqui na
terra. Tenho me surpreendido com alguns medos que me invadem o pensamento de
que a vida é mesmo uma calamidade vivida em prestações.
Tanta coisa acontecendo depois que
você partiu que me levam todos os dias a refletir para onde a humanidade está
caminhando. Quanto mais observo as pessoas e as coisas que acontecem, mais
gostaria de não compreendê-las. É uma controvérsia do que se quer e como vemos
as pessoas agindo.
As vezes um ímpeto de fé e
esperança no futuro me retorna e digo: - Vai mulher, ergue essa cabeça e se
reequilibra, ainda existem boas pessoas ao seu lado e que também necessitam de
você. Segue tua jornada, carrega teu fardo que é só teu e que lá adiante irá
encontrar o teu merecido descanso.
Muita coisa muda dentro da gente e
não é pelo que se fala, mas é pelo que se cala. Me calei muito, pensando nas
possibilidades do “re”: reaprender, refazer, reestruturar, reorganizar,
remendar, restaurar, reinventar e por aí vai... que levam ao mesmo lugar do
aprender, fazer, estruturar, organizar, emendar, criar, inventar. Palavras
utilizadas quando temos que dar um novo sentido as nossas vidas após uma perda
tão grande e de valor imensurável como foi sua partida, designando a nossa vida
para uma repetição do que vivemos, mas com muitas, muitas transformações em
todos os sentidos de sentimentos e valores.
A maturidade tem me aberto muitas
janelas para ver e perceber a finitude de viver certas experiências, sensações
e sentimentos e que foram gerando mudanças em mim com o passar dos anos. Todos
os dias tenho algo novo a aprender e sentir. Vejo com mais clareza que tenho
menos tempo de vida agora em vista dos anos que já vivi. As coisas pequenas e
triviais do passado que antes ocupavam meu tempo e energia estão perdendo o
sentido e vou aceitando o que me vem de uma maneira mais calma, pois o momento
é de agregar valor ao tempo e as coisas as quais realmente me importam.
Sinto sua falta todos os dias, do
amanhecer ao anoitecer, carrego você na tela do meu celular e no meu coração,
onde quer que eu vá.
Sinto saudade da tua presença, do
teu cheiro, do teu sorriso, das suas gargalhadas, das suas manhas, do teu
abraço, do teu beijo. São tantas lembranças boas dos momentos que estivemos
juntas.
Ah!!! Ana Cláudia, como queria
tê-la ainda aqui comigo, minha filha...
Te sinto filha como sempre, de
coração para coração estamos unidas. A
cada dia que passa estou mais perto de me reencontrar com você. Esteja bem meu
anjo de luz.
Te amamos Ana Cláudia, ontem,
hoje, amanhã e além