terça-feira, 11 de outubro de 2011

 IDENTIFICANDO OS SENTIMENTOS E A VIVÊNCIA DA DOR







Estava conversando por e-mail com uma amiga  que me disse que pouco troca experiências com mães que perderam filhos. E que as pessoas sempre lhe falam em ser forte, que vai passar, o tempo cura, e tudo o mais.
E me perguntando se já me falaram para lembrar dos momentos felizes que passei junto com a Ana Cláudia. De que valeu a pena ter vivido com a Ana Cláudia durante o tempo que ela esteve junto conosco. De que, se eu tivesse que escolher: - ter vivido sem tê-la ou ter vivido com ela apenas por tão pouco tempo, mas que foi intenso. O que eu preferiria? Qual o meu sentimento ou reflexão quanto as pessoas que falaram sobre isso comigo.
E me perguntou ainda: -Será que as pessoas que falam isso é porque não são mães, ou que não perderam filhos, ou que não amam ou amaram seus filhos o suficiente para se sentirem tão despedaçadas. Será que perder um filho seria o mesmo que perder pai, mãe, irmão, mesmo os amando muito?
E me dizendo que para ela isso tudo é muito conflitante.
Então eu lhe respondi o seguinte:


- As palavras das pessoas nos dizendo para sermos fortes e que vai passar. É UTOPIA.
 As feridas no peito estão aqui, não se fecham, não cicatrizam, são só amenizadas por esse "tempo" que todos insistem em nos falar. Não sei se felizmente ou infelizmente tenho sentido isso, que só mesmo o tempo vai amenizando tanta dor. Como já citei em um texto anterior, como gotas homeopáticas.
A minha experiência de vida é que foi alterada, antes eram tantos planos, tantos sonhos, tantas vontades, agora, é uma tristeza que não tem fim. Os dias estão passando, o mundo lá fora continua girando, pessoas indo e vindo, mas vivo do meu passado. Estou empurrando com a barriga (como diz o ditado), tenho outra filha e um marido que tenho que dar atenção, carinho e amor, mas não é fácil, nada fácil dar seqüência em uma família amputada de um ser integrante e tão radiante.
O que tem me ajudado a enfrentar esses dias são minhas amigas, as quais também perderam seus filhos, é com elas que eu divido minha tristeza e elas me compreendem assim como eu as compreendo.
 É uma forma que temos de verbalizar nossos sentimentos, colocando tudo para fora o que nos dói o que nos incomoda desses tipos de comentários ou qualquer outro assunto que nos perturbe. 
Realmente tivemos filhos espetaculares, o nosso desejo maior é de que ainda estivessem aqui conosco e que nós fossemos embora antes deles, esta é a ordem cronológica da vida.
Hoje vivemos outra realidade que não queremos para nós, ela nos foi imposta pela vida, nosso futuro, não sabemos, e eu nem quero saber, sempre digo para as pessoas que vêem me perguntar: 
- O que você vai fazer no Natal, no Ano Novo? Então eu digo: 
- Não sei, penso no máximo do máximo com um semana de antecedência, pois tudo o que eu imaginava para mais adiante foi por água abaixo. 
Os conflitos que hoje ela vive eram os meus também.
 As pessoas que nos falam tais coisas é que não sentiram a dor da perda de um filho, vivem uma outra realidade e amam seus filhos da forma que sabem amá-los, sem pensar na possibilidade de perdê-los. Era como viviamos também, sem termos noção da dor que outras mães já haviam passado e que hoje fazem parte de nossas vidas.
 O que mais vale hoje é o que está dentro de mim, o meu sentimento, o meu amor e a minha dor, a qual só eu sei o tamanho e como enfrentá-la e suportá-la. 

2 comentários:

  1. Querida Liane:
    Que família linda, graças a Deus que existem fotografias, fico imaginando essas mães, que nunca tiveram a oportunidade de tirar uma foto como lembrança daqueles que partiram antes de nós.
    Realmente tivemos filhos espetaculares continuam sendo os filhos espetaculares aqui na terra como lá em cima, com uma célula um pedacinho nosso mandando uma luz tão radiante que te ilumina para vc poder escrever com tanta sabedoria e passar essa mensagem para nós,
    E pensar como vai ser maravilhoso o nosso reencontro...
    Imagine quanta felicidade....
    Amo vcs demaissssssssss.

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  2. Você tem razão ouvi muito isso seja forte, perdi meu filho com 6 anos de vida, quem pode ser forte, não existe cura para essa dor.

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