segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


A DOR DA PERDA


Não existem palavras, línguas, gestos ou mesmo pensamentos que possam expressar a dor da perda. Ela é tão profundamente dolorida e fere a alma com esmero desmedido, cortando lenta e dolorosamente com o lado cego da faca.

A dor é fenomenal, incrívelmente dor, extraordinariamente dor, fatalmente dor. É dor, dor, dor, somente dor. E não cede, não acalma, não dá trégua. E a alma se contorce, revolve, chora, berra e geme em lamentos surdos, que tomam o corpo, que fazem cambalear e entontecer o espírito.

A dor da perda não tem som, não tem voz, e invade o âmago do ser silenciosa e cruelmente fazendo doer e adoecer o corpo. Massacra a alma a tal ponto de tudo ao redor perder o sentido. Tudo. Tudo perder o sentido e o brilho da vida.

Os olhos olham mas nada vêem, os ouvidos ouvem sem nada ouvir, os braços caem sem sentir qualquer amparo, qualquer sussurro de compreenssão, de entendimento. Somente o gosto do sangue da dor é percebido no fundo do coração que sangra, falece e se afunda no fundo da terra, do pó.

E tudo vira dor profunda e cortante como o fio de uma navalha. Os sentidos perdem a razão de ser. Robotizamos o corpo e caminhamos, perdidos e anestesiados de lá prá cá, de cá prá lá, desnorteados, confundidos, atordoados e completamente perdidos de nós mesmos. Esquecidos de tudo e de todos, menos da dor que rasga, dói e arranha o coração até o sangue jorrar em lágrimas profusas e gritos inaudíveis.

A dor da perda cala fundo e faz sepultura da alma onde desejamos ardentemente nos enterrar, em silêncio absoluto, em escuridão infinda, em adormecer eterno. Faz desejar a morte e buscar o fim de tudo, inclusive de si mesmo, para calar... a dor...

Não existem palavras que definam a intensidade da dor da perda. Ela é tão incrivelmente dor que perdemos a definição e a expressão do que sentimos. Nada mais importa. Nada. A dor da perda é pesada demais. Impossível de se carregar solitariamente.

Por isso, por tudo isso, havemos de buscar forças para suportar a dor da perda, por mais profunda, pungente e dolorida que seja, por mais aterradora e insensível...

Havemos de nos resguardar da dor, de acordar e lutar para viver, mesmo a alma em soluços, mesmo que o espírito, anestesiado pela dor, perca a vontade de lutar e continuar a viver... havemos de nos resguardar da dor no alento dos braços do amor, que é o único que torna possível tudo, por ele, com ele, suportar...


À você, que hoje lembra e chora a perda de um filho, uma filha, um pai, uma mãe, um irmão...
enfim, aquele ou aquela que provoca tanta dor em seu coração...


(Texto de Maria enviado ao Recanto das Letras em 05/06/2008)

2 comentários:

  1. Liane querida,
    Obrigada por seu apoio e carinho. Fico muito feliz sempre que visitas meu blog.
    Texto perfeito minha amiga, retrata exatamente o sofrimento que vivemos, a nossa luta diária, buscando forças para suportar a dor intensa e profunda que sentimos na alma e o vazio absoluto que ficou em nossa vida pela falta de nossas filhas amadas. Não é tarefa fácil. E eu sei que vou chorar por toda a minha vida, pela minha adorada e querida filha, as lágrimas rolam de tanta saudade, são inevitáveis e serão eternas; mas, espero que o tempo amenize minha dor, porque a solidão é maior a cada dia.
    Que Deus nos faça fortes para seguir adiante, guiando nossos passos pelo caminho do amor, da fé e da esperança para que tenhamos a plena felicidade de um dia reencontrá-las no Céu.
    Parabéns pelo post amiga, maravilhoso!
    Que Deus te abençoe e te guarde... força, coragem e paz!
    Um grande beijo.

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  2. Liane, vou deixar o link de uma seguidora do seu blog, uma mãe que perdeu sua filha há pouco tempo, também de forma trágica. Se vc puder, visite seu blog. Seu nome é Oneide. Bjs

    http://oneidezapico.blogspot.com/

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